Geologia da região de Marilia -SP
Sempre imaginei que nossa região tivesse pouca importancia a nivel geologico, e exceto pela formação de um planalto cercado de escarpas que formam os grotões ou "canyons" cercando toda cidade de Marilia e tambem outras proximas e que tem em uma extramidade a cidade de Galia e na outra mais distante indo para região oeste Quintana, mas que tambem se eleva ao sul na região de Echaporã e Lupércio (alias, esta fica exatamente num divisor de águas , ou seja as águas que nascem a norte, correm para a Bacia do Rio Feio ou Aguapei, e as nascentes nas vertentes sul correm para a Bacia do rio Paranapanema), e por esses rios rios acabam indo desaguar no Rio Paraná), mas em conversa com o amigo geólogo/geofisico Darby Pereira Dantas de Lima acabei descobrindo muito mais coisas e copio abaixo o excelente texto elaborado por ele, e que inclusive explica o porquê das recentes descobertas nessa região de fosseis (assunto a ser tratado em artigo futuro)
Geologia Regional - No passado e Agora
Vamos entender um pouco do passado geológico do Estado de São Paulo?
A Bacia do Rio Paraná que se localiza ao sudoeste
do Escudo Atlântico é uma das bacias sedimentares da Plataforma
Sul Americana. Esta bacia ocupa uma área de 1.500.000 quilômetros
quadrados no Brasil meridional e grandes partes do Paraguai, Argentina e Uruguai.
(Figura 1)
Figura1 - Bacia do Paraná. ("Ma" significa milhões de anos)
Ao longo do período do Fanerozóico (cerca
de 542 milhões de anos), a bacia que no seu centro atinge uma profundidade
de 7.000 m (até chegar ao embasamento pré-cambriano), foi preenchida
com sedimentos marinhos (época de inundações marinhas),
arenitos eólicos (época de megadesertos) e basaltos (época
de fluxos de lavas vulcânicas).
Para que as feições que hoje observamos na região se
estabelecessem, ocorreu uma grande mudança climática do período
Cretáceo para o período Terciário (Paleogeno) há
aproximadamente 61 milhões de anos. Ou seja, passou de um
lugar de clima desértico ou semiárido, para
um clima bastante húmido. Por isso ocorreu a formação
de arenitos e rios entrelaçados,além da solução
e precipitação química de carbonatos ou que deu origem
aos calcários. A complexidade climática que compreende à
Formação Marília é muito bem pronunciada, pois
ainda são encontrados paleosolos (solos antigos) de clima semi-árido
e paleosolos de clima húmido e carregado de fósseis.
Dessa forma, podemos entender através de um breve
analise geológico e geomorfológico sobre como o território
da cidade de Marília foi no passado e o que possibilitou a sua expansão
no presente, pois esta apresenta dois aspectos principais: o fato de estar
situada sobre um típico relevo Tabuliforme, ou seja, plano e de centro
de bacia sedimentar, e ter seu crescimento territorial e urbano condicionado
pela morfologia do relevo. A Cidade está localizada na morfoestrutura
da bacia sedimentar do Paraná e na morfoescultura do Planalto Ocidental
Paulista, mais precisamente no Planalto Residual de Marília e possui
como substrato rochoso os arenitos da Formação Marília
de sedimentação fluvio-lacustre (rios e lagos) e cimentação
carbonática.
Mesmo tendo características morfológicas que condicionam o crescimento
territorial e urbano, até então, quase nenhum estudo geológico
ou geomorfológico que detalha em profundidade os aspectos totais da
cidade tem sido feito. Gerando assim uma lacuna, nos que diz respeito à
confecção de trabalhos acadêmicos e de ordem da administração
publica local.
Na Região de Marília, o grupo rochoso mais evidente, pertencente
à Bacia do Paraná é o Grupo Bauru, que é representado
pelas formações Adamantina, Uberaba, Caiuá, Santo Anastácio
e Marília. (Figura 2)
Figura 2 - Grupo Bauru.
O substrato rochoso sobre o qual a malha urbana da cidade está situada
são os arenitos da Formação Marília. Tratam-se
de rochas sedimentares que tiveram como ambiente de sedimentação
rios e lagos em que seu principal agente cimentante é o carbonato de
cálcio, como citado anteriormente, sendo bastante comuns a existência
de cavernas e afloramentos de calcário.
Estruturalmente, esta unidade rochosa é basicamente constituída
de arenitos, por vezes intercalado com lâminas de argilito e siltito
onde ocorreram a formação de solo do tipo Latossolo Vermelho-Escuro
e Latossolo Vermelho perférrico em áreas mais restritas.
O estado de São Paulo apresenta problemas erosivos muito sérios,
que se concentram, na sua maioria, no oeste do estado, que é a área
de ocorrência dos arenitos do Grupo Bauru e dos solos associados a ele.
Esses problemas erosivos estão associados a vales entalhados e densidade
de drenagens bem significativas, implicando assim em um nível de fragilidade
que torna a área susceptível a fortes atividades erosivas, sobretudo
nas vertentes mais inclinadas.
O processo de formação e a evolução de erosões
são complexos e envolvem uma série de fatores interdependentes,
como fatores climáticos, formação e evolução
dos solos (pedogênese), vegetação, litologia, feições
geomorfológicas e ações antrópicas.
Esses processos são entendidos e estudados através
de conceitos de morfoestrutura e morfoescultura do relevo, como planaltos,
depressões e planícies litorâneas e fluviais, que, conseqüentemente,
estão associadas a diversas formas de relevo tais como, colinas, morros,
escarpas, entre outros. No município de Marília, a Formação
homônima, tem ocorrência mais restrita quando comparadas às
demais formações do Grupo Bauru. Essa formação
foi depositada durante a evolução da bacia logo após
a deposição Bauru e repousa geralmente, sobre a Formação
Adamantina, e mais para leste, diretamente sobre os basaltos da Serra Geral
que sustentam o relevo da região.
É por isso que ocorrem os contatos entre a Formação Marília
e a Formação Adamantina, e este contato é normalmente
escarpado, expondo assim as rochas das duas formações.
Os relevos que constituem a cidade são caracterizados por camadas sedimentares
horizontais ou sub-horizontais, onde notam-se chapadas, chapadões e
tabuleiros que lembram à presença de mesa, ou uma extensão
de mesa ou tabuleiros mantidos por camadas basálticas ou sedimentos
mais resistentes. Observam-se ainda por consequência, os vales em "V"
quase sempre ao topo das formações enquanto que os de fundo
abaulado ou em "U" tendem a ocorrer nos vales formados pelas escarpas
e cuestas. e explicando em miudos , ...Os vales em "V" ocorrem sempre
nas áreas de cotas (altitudes) mais altas e planificadas, as erosões
nesses lugares se dão de forma mais abrupta como se estivéssemos
cortando o substrato com faca e são erosões mais recentes....
enquanto que os vales abaulados ou em formato de "U" ocorrem onde
há a formação de escarpas e cuestas em consequência
da erosão contínua. Os Vales em "U" foram formados
durante a ultima era do gelo (Pleistoceno, há aproximadamente 2 milhões
de anos) e ainda estão sendo erodidos pela a ação do
tempo.
figura 3 - mapa das bacias hidrograficas
figura 4 - Mapa mostrando a Formação Marilia presente até no triangulo mineiro - detalhe de parte da figura 2
Texto elaborado por Darby Pereira Dantas de Lima, Geólogo/Geofísico. (e-mail: darbykpl@hotmail.com), a quem agradecemos a preciosa colaboração
Referências Bibliográficas
Diagênese das Rochas do membro Serra da Galga, Formação
Marília, Grupo Bauru (cretáceo da Bacia do Paraná), na
região de Uberaba, Minas Gerais. - Daniele Tonidandel Pereira Ribeiro
Fulfaro V.J. & Barcelos JH. 1991 Grupo Bauru no Triângulo
Mineiro: uma nova visão
litoestratigráfica. In: SBG/SP-RJ, Simpósio de Geologia do Sudeste,
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Atas, 59-66
FERNANDES, L. A.; COIMBRA, A. M. A Bacia Bauru (Cretáceo
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DO ESTADO DE SÃO PAULO (IPT). Mapa geológico do Estado de São
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